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Hemangioblastomas múltiplos, localizados no hemisfério cerebelar E, medula espinal cervical e lombar. No cerebelo a lesão é superficial e tem aspecto hemorrágico. Na medula observa-se aumento de diâmetro nas áreas afetadas. Na medula cervical é possível notar um cisto hidrosiringomiélico por transparência (área mais escura na foto em perfil). Na medula lombar há também um cisto de conteúdo citrino na região do cone medular. Estes cistos estão associados ao hemangioblastoma, mas o tumor propriamente não é visível nas fotos, estando situado na parede dos cistos. |
A
E, peça cirúrgica de um hemangioblastoma capilar. Notar caráter
bem delimitado e escuro, quase negro do tumor, devido à riqueza
em capilares.
À D, cistos renais em paciente com doença de von Hippel- Lindau, uma das manifestações viscerais comuns desta. |
HE. Caso de hemangioblastoma excepcionalmente rico em células estromais. Estas têm contorno arredondado e citoplasma abarrotado de gotículas lipídicas, conferindo aspecto xantomatoso. O núcleo é pequeno, hipercromático e parece comprimido pelos vacúolos. Apesar de morfologicamente lembrarem macrófagos xantomatosos, estudos recentes de imunohistoquímico não apóiam esta origem, sugerindo que as células estromais têm origem neuroepitelial. | |
Sudão vermelho, um corante que se dissolve em gorduras, é útil para demonstrar o conteúdo lipídico das células estromais em cortes de congelação. Na foto de cima, os núcleos foram contracorados com hematoxilina. | |
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Reticulina. Impregnação argêntica demonstra a densa trama de fibras reticulínicas delimitando os capilares do tumor. | |
Para imunohistoquímica em outros casos de hemangioblastoma, clique. |
Doença
de von Hippel - Lindau e Hemangioblastoma Capilar
A doença
de von Hippel - Lindau (DvHL) é autossômica
dominante, com incidência entre 1:36.000 e 1:45.500 indivíduos
na população geral, caracterizada por hemangioblastomas
capilares do SNC e/ou retina, carcinoma de células renais, feocromocitoma
e cistos viscerais.
Hemangioblastoma Capilar É um tumor OMS grau I de histogênese incerta, composto de células estromais e abundantes capilares. Corresponde a 1 a 2,5% dos tumores primários do SNC e cerca de 7% dos tumores de fossa posterior em adultos. A maioria é de ocorrência esporádica, sendo que 10 a 20% ocorrem como parte da síndrome de Von Hippel-Lindau. Até 45% dos pacientes portadores do síndrome desenvolvem um hemangioblastoma ao longo de suas vidas. São potencialmente extirpáveis por completo. Cerca de ¼ recidivam, especialmente na síndrome de Von Hippel-Lindau. Localização.
80-85% dos casos no cerebelo, 3-13% medula espinal, 2-3% bulbo. Lesões
supratentoriais são incomuns (1,5%). Lesões múltiplas
só na síndrome de Von Hippel-Lindau (incidência 42%
dos casos).
Idade. Geralmente ocorrem em adultos, raros em crianças. A maioria se torna sintomática entre a 3ª e 5ª décadas Quando associados à DvHL ocorrem mais cedo, média 29 anos. Pacientes com DvHL freqüentemente têm hemangioblastomas múltiplos. Clínica. O hemangioblastoma é um tumor de lento crescimento e produz sintomas por bloqueio liquórico e hipertensão intracraniana : cefaléia, vômitos, ataxia, perda de equilíbrio, tonturas. Podem produzir eritropoietina e dar policitemia secundária, que pode ser o primeiro sinal da doença. Morfologia. Nódulo bem delimitado, ricamente vascularizado, geralmente associado a um grande cisto. Pode ser amarelado devido ao alto conteúdo lipídico. Microscopicamente, as células estromais provavelmente representam o verdadeiro componente neoplásico. Contêm numerosos vacúolos lipídicos, mostrando aspecto xantomatoso, e sua histogênese continua em debate. Hemorragia intratumoral é freqüente, bem como alterações císticas. Necrose, calcificação e infiltração de tecidos vizinhos não ocorrem. A taxa mitótica é baixa e índice Ki67 é menos que 1%. Imunohistoquímica. O diagnóstico diferencial de hemangioblastoma com carcinoma de células renais metastático é feito por IH para citoqueratina, EMA e antígeno pan-epitelial (AE1AE3). O hemangioblastoma é negativo para todos. As células estromais e as endoteliais diferem significativamente na sua expressão antigênica. As primeiras não têm antígenos endoteliais como fator de von Willebrand e CD34, nem moléculas de adesão associadas a endotélio, como CD31. As células estromais exprimem NSE, S-100 e vimentina. Habitualmente não exprimem GFAP. O fator de crescimento para endotélio vascualr (VEGF) é expresso pelas células estromais, e as células endoteliais, por sua vez, expressam receptores VEGFR-1 e 2 (o que sugere alças parácrinas de estimulação, ou seja, que o crescimento dos capilares seja devido a estimulação química pelas células estromais). Manifestações extraneurais. Muito comum na DvHL é o angioma retiniano ou tumor de von Hippel, histologicamente idêntico ao hemangioblastoma. Não há lesões cutâneas associadas à doença. Dos tumores viscerais, o carcinoma renal e o feocromocitoma são os mais comuns. Histogênese do hemangioblastoma. Hemangioblastomas são compostos por células vasculares e estromais. Estudos de microdissecção e análise de deleções do locus gênico VHL identificaram as células estromais como as neoplásicas. Contudo, a origem das mesmas permanece enigmática. Entre as possibilidades estão : células gliais, endoteliais, aracnóideas, neuroendócrinas, fibrohistiocíticas, células de derivação neuroectodérmica, populações heterogêneas e plexo coróide embrionário. Vários estudos imunohistoquímicos e ultraestruturais foram realizados. P. ex. A molécula de adesão de células neurais (NCAM ou CD56) é consistentemente positiva, e há freqüente positividade para proteína S-100. Fatores VIII e XIIIa foram relatados nas células estromais. Marcação para GFAP foi encontrada só em alguns estudos e o significado é incerto. Genética.
O gem VHL foi localizado no cromossomo 3p25-26. É um gem supressor
tumoral com 3 exons. Seu produto, expressado amplamente em tecidos normais,
é uma proteína de 213 aminoácidos que é uma
das subunidades reguladoras (elonguinas) da RNA polimerase II. A RNA polimerase
II transcreve em RNA os gens que serão traduzidos em proteínas.
O produto do gem VHL poderia inibir o alongamento do mRNA que está
sendo transcrito (sintetizado pela polimerase II). Também regula
expressão de VEGF, PDGF-B e GLUT-1 a nível pós-transcricional.
Em células normais, aumento de expressão destes fatores está
associado a condições hipóxicas.
Prognóstico. A expectativa média de vida na DvHL é 49 anos. Antigamente os hemangioblastomas eram a principal causa de morte, mas hoje são os carcinomas renais. Recomenda-se screening periódico de pacientes com DvHL para detecção precoce destes tumores. Pacientes com hemangioblastoma do sistema nervoso central devem fazer análise para mutações na linha germinativa para o gene VHL, em especial os com idade mais jovem e lesões múltiplas. Recomenda-se exame de ressonância magnética uma vez por ano após a idade de 10 anos por toda a vida para pesquisa de novas lesões. Fonte. Plate KH, Vortmeyer AO, Zagzag D, Neumann HPH. Von Hippel-Lindau disease and haemangioblastoma. In WHO Classification of Tumours of the Central Nervous System. 4th Ed. Louis DN, Ohgaki H, Wiestler OD, Cavenee WK (eds). International Agency for Research on Cancer, Lyon, 2007. pp 215-7. Texto atualizado em 15/12/2013 |
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