Neuropatia  hipertrófica
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A chamada neuropatia hipertrófica resulta de repetidos ciclos de desmielinização e remielinização em axônios periféricos.  Várias causas podem ser responsáveis. Entre elas, doenças da mielina de fundo genético, em que proteínas da mielina são defeituosas, como na doença de Déjérine-Sottas. A mielina formada é frágil e degenera facilmente, sendo substituída por uma nova, também frágil e assim por diante.  No processo, há proliferação dos prolongamentos das células de Schwann, que tendem a dispor-se em volta dos axônios, à maneira de pétalas de rosa ou em bulbo de cebola.  As formações concêntricas resultantes podem ser visíveis num corte transversal de nervo incluído em parafina, já na HE. 

Clinicamente, há espessamento do nervo, que pode ser palpável, e até visível, facilmente, como o radial, o ulnar e o grande auricular. Citaremos como exemplos de neuropatia hipertrófica duas formas de neuropatia hereditária sensitivo-motora (NHSM).

Doença de Charcot-Marie-Tooth (ou atrofia muscular peroneal, ou NHSM tipo I). 
Nesta forma, a herança é autossômica dominante e o início dos sintomas geralmente na 2a ou 3a décadas. O distúrbio é predominantemente motor, caracterizando-se por atrofia progressiva dos músculos distais dos membros inferiores. Há atrofia dos pés (pés cavos) e das pernas, que se tornam desproporcionais ao volume das coxas (relativamente poupadas), dando aspecto comparado a pernas de cegonha ou a 'garrafa de champanhe invertida'. Mais tarde há atrofia das mãos e antebraços. Ocorre também perda de sensibilidade distal, porém discreta em relação ao déficit motor. Atinge mais as modalidades proprioceptivas levando a arreflexia profunda global. A velocidade de condução nervosa medida por eletroneurografia está reduzida a 10-30 m/s (normal: 50-60 m/s em membro superior). A doença dura várias décadas e pode parar de progredir espontaneamente.

Doença de Déjérine-Sottas (ou NHSM tipo III).  A herança é autossômica recessiva.  O início do quadro se dá na infância, sendo a evolução mais rápida que no tipo I. Há retardo no desenvolvimento neuromotor, fraqueza e atrofia dos membros na porção distal, e ataxia. Os reflexos osteotendíneos estão abolidos. Há anestesia e dores com distribuição em bota e luva e perda do reflexo pupilar à luz. Muitos pacientes desenvolvem deformidades como pé cavo e cifoscoliose, necessitando cadeira de rodas. Ao exame físico, nota-se espessamento dos nervos, que, na biópsia, mostram o quadro clássico de neuropatia hipertrófica. As velocidades de condução nervosa estão muito reduzidas. 
 

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Axônio de médio calibre, com baínha de mielina muito delgada em relação ao diâmetro axonal, e circundado por vários processos (ou prolongamentos) de células de Schwann em arranjo concêntrico. Embaixo e à D, uma célula de Schwann cortada a nível do núcleo e não associada a axônio. Para identificar os prolongamentos citoplasmáticos como de células de Schwann é necessária presença de membrana basal (difícil de visualizar neste aumento). 
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Abaixo, outros exemplos de axônios mielínicos com alteração hipertrófica. Notar variação da proporção entre espessura da mielina e diâmetro axonal, uma evidência de desmielinização e remielinização. 
Por vezes, após vários ciclos de desmielinização e remielinização, há degeneração do axônio sem regenração.  Os perfis hipertróficos de células de Schwann aparecem então em meio ao colágeno do endonêurio desprovidas de axônio (abaixo). 

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